Quantas vezes a gente não achou que ia ser diferente? Que, sei lá, dessa vez iria dar certo, que dessa vez o frio na barriga não seria em vão e que os nossos domingos à tarde seriam menos entediantes? Quantas vezes a gente achou que o inverno seria mais aconchegante e que o adeus não chegaria nunca?
Nunca estamos livres de esbarrar com alguém especial e isso acontece em várias fases e momentos da nossa vida, mas nem sempre esse alguém especial vem para ficar, nem sempre o sentimento brotado consegue crescer e aí vem a difícil e complicada tarefa de fazer morrer aquilo que insiste em florescer.
E aí vem a tarefa árdua de controlar os nossos impulsos, de deixar o telefone de lado, de chorar em silêncio para ninguém ver, de parecer bem quando – na verdade – nada está bem. Vem a difícil tarefa de tentar esquecer os nossos “porquês”.
E, depois de nos recompormos, de um jeito desajeitado e confuso, nós somos surpreendidos novamente por algo novo, forte o suficiente para abalar com toda a nossa rigidez. E então nós hesitamos em recomeçar, damos passos lentos, mas resolvemos ir. Porém, se algo dá errado novamente, nós voltamos à tona, revivemos as mesmas marcas e criamos novas feridas. E, sempre que algo de bom aparece, nós estamos com os olhos tapados pela dor. Privamo-nos de viver algo novo por medo de nos machucarmos e porque já não acreditamos mais que será diferente.
Quantas vezes eu, tu, nós, não demos um passo em falso, quantas vezes nós achamos que aquela pessoa ali ia ser aquela que iria domar os nossos medos e acalmar a tempestade que há em nós?
Eu já quis mudar o meu jeito de ser para agradar, já achei que o problema fosse meu, que eu não tinha a risada mais engraçada, já pensei que a minha conversa não era das mais agradáveis, que o meu sorriso nem era tão bonito assim. Já me quis enquadrar num perfil para ver se assim aquela pessoa olhava para mim, ou se eu gostasse de tal música essa pessoa me acharia interessante.
Demorei para perceber que para um novo ciclo começar nas nossas vidas é preciso ser forte o suficiente para ser quem somos, quem sempre seremos. Antes de embarcar nessa tal aventura do amor, eu preciso ter coragem para ser como eu sou, com aquela risada por vezes descontrolada e escandalosa. Preciso ter coragem para ser como eu sou, com aquele jeito todo desastroso de ser, mas de quem sabe amar como ninguém. Preciso ter coragem para ser tal como sou, para ser aquela companhia aconchegante quando a tempestade vem e que abraça como quem não quer deixar partir.
E então eu entendi que, antes desse tal amor chegar, eu preciso valorizar-me mais e isso não tem nada a ver com egoísmo e orgulho. O amor não consiste em deixar a essência de cada um se perder, ninguém precisa ser perfeito.
Repara em quem elogia o teu sorriso mais sincero, em quem aplaude as tuas pequenas vitórias, em quem gosta das tuas piadas mais sem graça, em quem te elogia mesmo quando tu estás com a roupa mais simples. Repara em quem vê a beleza mais pura que há em ti. E, só então, o amor pode aparecer. O amor pode estar naquilo que nós nunca tentámos ver. Talvez porque estávamos com os olhos fechados devido a tantas feridas e por acharmos que precisávamos ser diferentes, que precisávamos trocar as roupas do nosso guarda roupa, que precisávamos deixar de ouvir as músicas que ouvimos, que precisávamos esconder que gostamos de ver certos filmes. Alguém vai amar-te mesmo nos teus piores dias, vai rir do teu jeito bagunçado e vai gostar das tuas loucuras. Alguém vai amar a tua paixão por comida e achar engraçado o quanto tu gostas de dormir. Alguém vai amar-te do jeito que tu és.
Não deixes a tua autenticidade de lado, não deixes de lado o teu sorriso mais bonito, não deixes de contar as tuas piadas. Não deixes de chorar ao ver um filme de romance, tu não precisas deixar de ser tu mesma para encontrar alguém, tu só precisas continuar sendo quem tu és, com a tua alma bonita e o teu jeito encantador. Tu só precisas encontrar alguém que veja a verdadeira beleza que há em ti.