Um dia eu sofri por amor. Ainda me lembro bem das madrugadas com choro abafado no travesseiro, no chuveiro, ao som de uma música… Ainda me lembro bem da sensação de roubo dentro de mim, como se tivessem tirado de mim o que existia de mais precioso. Eu era obrigada a ver a cara do infeliz e o quanto ele era exageradamente feliz sem mim. Ou que aparentemente eu já nem lhe fazia falta. Ou que ele nem se deveria lembrar mais dos pequenos detalhes que eu me esforçava incansavelmente para esquecer.
A mãe dele sentia a minha falta, contava-me o quanto ela achava que eu era a certa para ele. Não só ela, mas todos ao meu redor sabiam, menos ele. Eu sofri, chorei, nunca pensei que era possível ficar tão mal por alguém. Até chegar o dia em que eu o vi com outra. Nossa, que sensação foi aquela? Algo dentro de mim me implorava para eu cair de joelhos no chão e pedir, por favor, para que ele parasse e voltasse para mim, que eu valia a pena e que o iria fazer mais feliz do que qualquer outra pessoa, que ela não o conhecia como eu nem cuidaria dele tão bem quanto eu. Mas eu tive que me manter forte e fingir sorrisos de “ah, eu nem sequer ligo mais”. Acho que essa é uma das piores partes, ver todas as nossas amigas já cansadas de presenciar o nosso sofrimento e só terem um argumento para nos consolar: “ai, já deu, não é?! Ele não te merecia, esquece, segue em frente”. Também me lembro de quando alguém me via mal e me vinha abraçar, e perguntava se estava tudo bem. Nesses momentos eu só me queria aninhar ali naquele ombro e chorar, gritar a minha história para todo o universo ouvir, mantendo viva aquela necessidade de ouvir sempre de alguém que um dia ele ia arrepender-se e que ainda seríamos felizes.
E eu fui sofrendo, sofrendo, sofrendo… Todas as músicas me lembravam dele. Todo o filme me lembrava de nós dois. Todo o lugar onde nós tínhamos passado me lembrava dos nossos momentos. Eu senti falta e achei que não ia aguentar, mas aguentei. Um belo dia eu acordei e simplesmente me cansei. O mundo é tão grande e cheio, e a vida tão passageira, eu era tão nova… Não tinha tempo para ficar assim. Resolvi esquecer, ir até ao cinema com as minhas amigas, sair para lanchar, para dançar… Ele estava lá, a tentar esquecer-me com todos os rostos e corpos bonitinhos que encontrava. E eu lá, a arrastar-me sozinha nesse sofrimento. Eu até hoje não sei como, só sei que fui amadurecendo essa ideia e aprendendo a lidar com ela. O sofrimento foi diminuindo, a dor foi passando, e quando menos esperei, estava de bem com a vida e comigo mesma. E adivinhem: não é que o safado se arrependeu? Voltou com o rabinho entre as pernas, a dizer que não aguentava mais as saudades e a pedir o meu amor de volta. Procurou-me em todas, e quando viu que não me encontrou, decidiu aparecer. Por isso eu acho que o sofrimento tem que ser vivido, sabes? Porque só assim é que nós aprendemos a superar. Eu superei porque decidi não me esconder, estava disposta a aprender e não a afogar-me num mar aberto de solidão e desilusão. Ele tentou ter-me de volta, mas já era tarde.
Então, o meu conselho é para vivermos o nosso sofrimento, o nosso luto da forma que acharmos melhor. Às vezes as pessoas que parecem mais felizes, são as mais tristes e solitárias. Quando tu menos esperas, estás feliz e de bem contigo mesma. Acredita, isto não é uma mentirinha bonita para entreter… Vai passar mesmo! E se não passou ainda, é porque tu ainda precisas aprender algo daí. Mas acredita, uma hora passa. Sempre passa!