Diz-se que tudo começa pelo início… Ora não podia concordar mais! Tudo se inicia do nada, do nada físico e do nada emocional. Do nada em expectativas e em compromissos. Do nada, em lugar nenhum, em momento algum, de momentos únicos e singulares. De momentos em momentos, de nadas em nadas, de lugares em lugares…
Dito isto, pergunto-me: o que é que nos faz apaixonar por alguém? Mistério misterioso e sem uma resposta óbvia! Se fosse óbvia, estes tempos de paixão não seriam tão irracionais. Não é só porque aquela pessoa é assim ou assado, não é só porque ela é bonita, não é só porque aparenta ter aquele pormenor que mais gostamos.
Não é por ter este ou aquele atributo físico. Não é por saber falar, não é por já ter vivido mais ou menos intensamente a vida. Não basta ser inteligente, por mais que todos admirem isso. Tem de ter isso e algo mais… Diria que esse algo mais é o jeitinho de ser. Apaixonamo-nos exatamente pelo jeito próprio de ser de uma pessoa.
Não é porque a pessoa se ri mais ou menos alto, fala mais ou menos alto, não é por ela ter olhos azuis, verdes ou castanhos. É o jeito dela de dizer algo em voz alta como se fossemos nós a fazê-lo; é o jeito dela de mexer no cabelo, de forma lenta e sensual. É o jeito de caminhar. O jeito de usar a camisa por fora das calças, ou a forma como se produz em cada momento especial. É a sua elegância. Não importa a roupa que ela veste, vai-te parecer sempre perfeitamente bela. O jeito de passar a mão no cabelo. O jeito de rir ou sorrir. É o jeito de tocar, de olhar… A sua beleza torna-nos dependentes daquelas emoções físicas que o outro nos provoca. A voz dela provoca-nos, o olhar derrete-nos. O ar misterioso e por vezes enérgico, surpreende-nos. Entregamo-nos no querer desvendar cada mistério.
São os detalhes faciais, a forma como os olhos brilham, a forma invulgar como achamos que se move, e que nos faz perder a calma. E no exato momento em que esses corpos se encontram, gera-se uma sintonia que nos faz enlouquecer, que faz a tua mente derreter e o teu coração ter momentos de aceleração e desaceleração, intervalados por êxtases totais. Nestas alturas o respirar já não tem graça, queremos mesmo é perder o fôlego. E no meio dessa perda de fôlego, rendemo-nos à evidência de que a física é o caminho mais sensato. Quando está frio, sabemos onde nos esquentar. Quando estamos melancólicos, sabemos onde nos alegrar. Exatamente naquele abraço e naquele olhar. Quando nos sentimos sós, sabemos quem queremos para dialogar. Quando estamos enérgicos, sabemos exatamente quem desejamos para nos cansarmos.