As sete leis do dinheiro

 

Aprender a lidar com o dinheiro é um dos grandes desafios para quem pretende ser rico de verdade. Rico não apenas em termos de dinheiro, mas também de outros bens necessários à realização pessoal e à felicidade. O primeiro passo é entender que dinheiro é uma energia e, como tal, só existe quando está em movimento. O segundo passo é perceber que o verdadeiro rico é aquele que está satisfeito com o que possui

Basta ir à seção de business de uma livraria e verificar. Nas estantes há dezenas, centenas de livros que pretendem ensinar como transformar dinheiro em mais dinheiro. Nenhuma surpresa. Já foi dito que um jeito fácil de ficar rico é ensinar os outros a ficarem ricos. Cobrando pelas lições, é claro. Nestes dias em que a adoração ao deus-diabo chamado dinheiro atingiu proporções olímpicas, é natural que muitos autores se consagrem sacerdotes da religião financeira e saiam por aí atrás de adeptos que possam pagar por seus serviços.

Em geral, quem se entrega ao culto de uma divindade – benévola ou maléfica – o faz pela simples volúpia da entrega, sem questionar a verdadeira natureza da divindade à qual se sacrifica. Não é diferente o caso do dinheiro. Muita gente o adora sem saber a que ou o que está adorando.

Do ponto de vista da espiritualidade, o dinheiro é um símbolo de energia. Ele representa uma energia que nos liga aos objetos de nossos desejos adquiríveis. Ele não é uma coisa, e sim uma transação, uma transferência, uma troca

 

O que é o dinheiro?

Nada em si mesmo; ele existe apenas como intermediário para se conseguir outras coisas. Para alguns, ele simboliza trabalho, conquista de bens duráveis ou perecíveis, aquisição de propriedades. Para outros, representa ouro ou prata acumulados nos cofres dos bancos. Uma definição final de dinheiro nunca foi alcançada pelo simples fato de que, em si mesmo, ele nada significa.

Em nossa cultura, porém, o dinheiro é uma força poderosa, capaz de determinar coisas fundamentais, como a doença e a cura, a fome e a saciedade, a tristeza e a alegria, a vida e a morte de muitos indivíduos, e até os próprios rumos da civilização.

 

 

Do ponto de vista da espiritualidade, é consenso geral que o dinheiro é um símbolo de energia. Ele representa uma energia que nos liga aos objetos de nossos desejos adquiríveis. Ele não é uma coisa, e sim uma transação, uma transferência, uma troca.

Quando visualizamos o dinheiro desse modo, começamos a mudar nossa atitude habitual em relação a ele. Não se pode, por exemplo, possuir uma energia ou tratá-la como um objeto de nossa propriedade. Pode-se cuidar da energia de modo apropriado, pode-se utilizá-la de forma útil e conveniente, mas não se pode agarrá-la com as mãos nem trancá-la para sempre numa caixa. Energia só é energia quando está em movimento, e não se pode desfrutar dela a menos que se permita seu fluxo.

Compreender esses princípios da energia é o primeiro passo para se resolver o “problema” do dinheiro em nossa vida. Livre das conotações de apego e cobiça, o dinheiro pode tornar-se um símbolo da nossa possibilidade de interconexão, um meio para o intercâmbio de energias e valores humanos.

A relação com o dinheiro reflete com precisão o nível de nosso desenvolvimento espiritual. Os termos “miserável” ou “esbanjador” referem-se a um tipo de relação pessoal não apenas com o dinheiro, mas com o mundo em geral. O dinheiro é uma ilusão, mas isso não significa que ele não tenha poder. Esse poder, se compreendermos sua verdadeira natureza, poderá se tornar um aliado e até um professor no caminho espiritual. Como nos lembra Swami Kriyananda, guru contemporâneo, “o dinheiro é apenas um símbolo de energia. Podemos usar a energia de modo sábio ou louco; com generosidade ou com egoísmo; com liberdade ou com apego ganancioso. O dinheiro é capaz de trazer muitos benefícios. Usá-lo adequadamente significa realizar um serviço útil e até mesmo espiritual. Dinheiro não é sinônimo de materialismo”. Como toda energia, o dinheiro não tem consciência moral. Toca a nós conferirlhe moralidade através do uso que fazemos dele.

O norte-americano Mike Phillips, autor do best-seller As Sete Leis do Dinheiro (Editora Madras), narra uma experiência exemplar que viveu na juventude e que o levou às mesmas conclusões de Kriyananda. Aos 30 anos, viciado em trabalho como tantos outros yuppies das décadas finais do século 20, fortemente estressado e sem nunca ter tirado férias em sua vida, ele decidiu seguir o conselho de um cliente e foi fazer um longo cruzeiro de navio.

 

 

“Quando eu estava a bordo”, escreve Phillips, “percebi que ali não havia nada para fazer. Senti que ia ter um colapso nervoso e pensei em chamar um helicóptero para me tirar do navio. Finalmente, tive de escolher entre ficar doido ou simplesmente sentar numa cadeira no convés e ficar lá olhando para o mar durante dias seguidos”.

Riqueza

“Eu sempre achara que as pessoas com mais dinheiro eram mais amadas e respeitadas – e, no entanto, quando pensava nas qualidades que me atraíam nessas pessoas, percebia que elas nada tinham a ver com dinheiro”, afirma Mike Phillips

Foi o início de uma grande transformação. “(…) pelo fato de eu desejar a liberdade, e pensar que o dinheiro podia me trazer essa liberdade, acabara arranjando um emprego onde era mínima a liberdade para desfrutar das coisas que realmente me interessavam”, escreveu Phillips. “Eu sempre achara que as pessoas com mais dinheiro eram mais amadas e respeitadas – e, no entanto, quando pensava nas qualidades que me atraíam nessas pessoas, percebia que elas nada tinham a ver com dinheiro. Eu desejava segurança para minha família e meus amigos, mas era incapaz de ver minha família e meus amigos pelo simples fato de estar excessivamente concentrado no trabalho.”

Phillips não é o único a lutar pelo despertar de uma nova consciência em relação ao dinheiro e à prosperidade na nossa conturbada civilização da produtividade, do consumismo e do acúmulo de bens materiais. Vários outros autores – entre eles homens e mulheres de negócios – mudaram os rumos de suas vidas ao entender que “o uso do dinheiro é a única vantagem que existe no fato de se ter dinheiro”, como dizia Benjamin Franklin.

A preocupação básica dessas pessoas é a criação e o desenvolvimento de uma nova mentalidade designada pelo termo geral de “consciência da prosperidade”. Esse termo se refere a uma atitude básica perante a vida, percebida como um fenômeno rico e abundante, e não mais pobre e carente de recursos.

“Cada um de nós já possui uma riqueza infinita”, afirmam os autores Jack e Lois Johnstad em seu livro The Power of Prosperous Thinking (O Poder do Pensamento Próspero). “Você não percebe esse fato porque a maior parte da sua riqueza está numa forma que você não reconhece como riqueza. Você possui tempo, energia, habilidades, ideias. Mas ainda não desenvolveu o conhecimento especializado para converter a riqueza que já possui em outras formas mais negociáveis de riqueza.”

 

Os Johnstads têm razão. Mas, como apontam alguns críticos, a transformação da riqueza interior em riqueza exterior nem sempre é tarefa fácil – e às vezes não é sequer desejável.

A verdadeira abundância, como lembra o filósofo David Spangler, vai além do bem material. “Possuir consciência da prosperidade ao nível da alma não significa ter um sentido de acesso a muitas coisas – como aquelas guardadas nos cofres-fortes –, mas, muito mais, ser uno com a Essência que existe dentro e por detrás de todas as coisas. A verdadeira abundância é aconsciência da totalidade, da unicidade e da qualidade, e não a consciência da separatividade, da multiplicidade e da quantidade.”

Um dos primeiros passos para a conquista da verdadeira consciência da prosperidade é o despertar do sentimento dE gratidão por tudo que já possuímos, em vez de cultivar o sentimento de pesar por tudo que nos falta


 

Um dos primeiros passos para a conquista da verdadeira consciência da prosperidade é o despertar do sentimento maior da gratidão por tudo que já possuímos, em vez de cultivar o sentimento de pesar por tudo que nos falta. O sentimento universal da gratidão nos faz entender e aceitar todos os fatos de nossa vida como oportunidades que devem ser aproveitadas.

O segundo passo é entregar nosso projeto de vida a um Poder Maior do que nós mesmos. Se considerarmos nossos projetos como coisas inspiradas, cuidadas e vigiadas por um Poder Maior, estaremos seguros de que esse Poder cuidará de todas as necessidades relacionadas a eles. Isso não significa que basta sentar e esperar passivamente que as coisas aconteçam por si sós. Como diz a Bíblia, “ajuda-te que Eu te ajudarei”. Segundo os especialistas, a entrega a um Poder Maior nos dá segurança e força para perseguirmos com afinco nossos objetivos e desperta em nós a percepção das oportunidades quando elas surgem. E oportunidade, como se sabe, é “cavalo sem rabo” – quando ela aparece, deve-se agarrá-la pela cabeça…

Pensamento positivo é outro fator fundamental da consciência da prosperidade: a qualidade do nosso pensamento determina não só a criatividade, mas também o êxito ou o fracasso de nossos projetos financeiros. “Quando você espera o melhor”, diz Norman Vincent Peale em seu livro clássico O Poder do Pensamento Positivo, “libera uma força magnética em sua mente a qual, pela lei da atração, tende a trazer o melhor para si”. Nos negócios, como na vida em geral, “somos aquilo que pensamos” (por sinal, tema da matéria de capa de PLANETA 459). Por isso, as técnicas psicológicas da visualização criativa e da afirmação são consideradas formas avançadas de pensamento positivo.

A afirmação, em termos simples, consiste em repetir ideias positivas de modo que elas se enraízem na mente. Essas ideias podem ser ditas em voz alta, gravadas e reproduzidas num gravador, ou simplesmente escritas. Exemplos de frases afirmativas? “Há prosperidade em tudo aquilo que faço”; “Um Poder Maior cuida de todas as minhas necessidades”.

 

A visualização também ajuda a transformar condicionamentos negativos e a reprogramar a mente no nível inconsciente. No livro Visualização Criativa, Shakti Gawain aponta os quatro passos básicos dessa técnica que levam à consciência da prosperidade:

1) Defina seu objetivo: saiba com clareza aquilo que deseja realizar, criar ou alcançar.

2) Crie na mente uma imagem nítida do objeto ou da situação exatamente como você o (a) deseja. Você deve pensar nele (ou nela) no tempo presente, como se o caminho para sua realização já estivesse pronto.

3) Mentalize o objetivo com frequência: traga a ideia ou a figura mental frequentemente à consciência, tanto durante os períodos de meditação quanto ocasionalmente, no decorrer do dia, todas as vezes que lhe ocorrer.

4) Alimente o objetivo com energia positiva: cada vez que você focaliza mentalmente seu objetivo, pense nele de modo positivo e encorajador. Faça fortes afirmações positivas para si mesmo: diga que aquilo existe de fato, que aquilo já está chegando para você. Veja a si próprio recebendo ou adquirindo o que deseja.

Afirmações e visualizações positivas são ferramentas poderosas. Mas… lembre-se sempre do sábio ditado: “Cuidado com o que você deseja, pois poderá alcançá-lo.” É preciso sempre ter o cuidado de examinar as conotações morais daquilo que se deseja e verificar se esse desejo realmente corresponde à sua necessidade. Muitas vezes, conseguir algo importante, porém não realmente necessário, pode simplesmente significar pôr mais uma pesada pedra no saco que carregamos às costas…

Viver bem não significa, necessariamente, ter mais dinheiro ou possuir mais coisas. Se você, como a maioria dos brasileiros, não tem dinheiro suficiente, há duas coisas a fazer. A primeira delas é, obviamente, aumentar seu rendimento. A segunda é simplificar a vida. Existe atualmente uma tendência crescente nesse sentido no mundo desenvolvido. O filósofo Richard Gregg, discípulo de Gandhi, explica o que isso significa: “Simplicidade voluntária implica condições tanto externas quantos internas. Significa simplicidade de propósitos, sinceridade e honestidade para com você mesmo, bem como evitar a confusão do mundo ao redor e as posses irrelevantes para o propósito principal da vida. Significa a ordenação e o controle da nossa energia e dos nossos desejos, a restrição parcial de algumas coisas de modo a assegurar a abundância de outras mais essenciais. Implica a deliberada organização da vida para um propósito bem definido.”

 

Gandhi levava isso ao pé da letra. Certa vez ele compareceu a um encontro com o rei da Inglaterra vestido apenas com o habitual pano branco que lhe cobria os quadris. Quando alguém comentou quão pouco vestido ele estava na presença do rei, Gandhi respondeu: “Sem problema. O rei estava vestido o bastante para nós dois.”

O importante, afinal, é compreender a verdadeira natureza do dinheiro e saber fazer uso dela. Atribui-se a São Paulo a advertência de que “o dinheiro é a raiz de todo mal”. Mas, provavelmente, o que ele queria mesmo dizer é que “o amor ao dinheiro é a raiz de todo mal”

O importante, afinal, é compreender a verdadeira natureza do dinheiro e saber fazer uso dela. Atribui-se a São Paulo a advertência de que “o dinheiro é a raiz de todo mal”. Mas, provavelmente, o que ele queria mesmo dizer é que “o amor ao dinheiro é a raiz de todo mal”. Nosso apego ao dinheiro – e nossa crença equivocada de que o dinheiro é a chave para uma vida feliz – constituem o verdadeiro problema. Como sugere a sabedoria do Talmude judaico, “o homem rico é aquele que está satisfeito com o que possui”.

O livro As Sete Leis do Dinheiro, de Mike Phillips, ensina como trabalhar com a ilusão do dinheiro. A seguir, uma síntese das leis que, segundo o autor, determinam uma relação sadia com o deus-diabo monetário:

1) Agir! O dinheiro vai entrar quando você fizer a coisa certa. Esse mandamento é o mais difícil de aceitar para a maioria das pessoas e é a origem de boa parte de nossas aflições. O jeito mais fácil de explicá-lo é: vá em frente e faça o que você realmente quer fazer. Preocupe-se com sua capacidade e competência para fazer o que quer, e nunca com o dinheiro que isso lhe trará.

2) O dinheiro tem regras próprias: fluxo de caixa; orçamentos; poupança; empréstimos. Nunca esbanje o dinheiro; não seja perdulário; seja cuidadoso com ele: você deve mantê-lo sob controle e nunca ignorar o que acontece com ele.

3) O dinheiro é um sonho. É muito mais um estado da mente. As pessoas que consideram o dinheiro algo real e tangível – como quem direciona sua vida no sentido de acumular milhões de dólares – vivem na ilusão de que sua realidade vai se transformar quando atingirem sua meta. Elas se projetam nesse objetivo e, como ele é apenas uma ilusão, é só isso que vão alcançar: a ilusão de uma transformação pessoal.

4) O dinheiro é um pesadelo que se traduz muitas vezes em prisão, roubo, medo da pobreza. Mais de 80% das pessoas que a sociedade condena à prisão são indivíduos que não sabem como lidar com o dinheiro. O sonho ocidental é o de ganhar um monte de dinheiro e, com ele, levar uma vida cômoda e feliz. Mas essa possibilidade costuma estar muito distante da realidade.

5) Nunca se deve jogar dinheiro fora. O dinheiro flui através de certos canais, como a eletricidade flui através dos fios. Como todo sistema energético, para manter-se vivo e ativo o fluxo do dinheiro tem de ser um sistema de duas mãos, um toma-lá-dá-cá.

6) Nunca se deve receber dinheiro como um simples presente. Ele deve ser considerado emprestado, ou como o retorno de um investimento. Dar dinheiro exige alguma forma de pagamento; se isso não acontece, afloram os aspectos de pesadelo do dinheiro. Quem dá ou empresta dinheiro deve exigir que ele seja utilizado de forma satisfatória por quem o recebe.

7) Há universos valiosos que não podem ser adquiridos com dinheiro. Por exemplo, os universos da arte, da poesia, da música, do sexo, do amor – todos eles essenciais à vida. Essa lei deve ser entendida como uma estrela guia. Você nunca vai alcançar essa estrela, mas também não vai alcançar seu destino sem que ela lhe aponte os rumos corretos.

Obrigado