Não existia água CANALIZADA e as pessoas precisavam buscar baldes de água para lavar as louças, roupas, COZINHAR ou tomar BANHO, para muitas pessoas um banho por semana. E ainda falam que a vida era mais fácil! Com 10 anos já se trabalhava de sol-a-sol só pela comida e alguns quinhões de bens como o azeite.
Antigamente, a vida das famílias era mais simples e tranquila? Não existia a correria que vemos hoje em dia.
As pessoas andavam a pé, pois quase não existiam carros. As ruas eram de terra ou de paralelepípedos. As crianças podiam brincar nas ruas e calçadas, pois não havia perigo de acidentes ou assaltos.
Os vizinhos eram como integrantes das outras famílias, todos os dias se reuniam nas varandas de suas casas para conversar enquanto as crianças brincavam.
As brincadeiras, nessa época, eram: roda, pega-pega, esconde-esconde, passa anel, barra manteiga, bolinha de gude, etc.
As famílias eram bem grandes, um casal tinha mais de seis filhos, quanto mais melhor para trabalhar. Mas hoje o número de pessoas na família diminuiu muito, o normal é um casal ter um ou dois filhos, pois o importante é a educação.
A violência e as dificuldades para se viver bem, também são motivos que influenciaram no tamanho das famílias.
Além da quantidade de pessoas de uma família, outras diferenças existem se compararmos à vida de hoje.
Nas casas não existiam aparelhos de televisão, ouvia-se música com discos de vinil ou no rádio. Também eram transmitidas as notícias e até novelas faladas. As fotografias eram feitas por um homem que colocava um pano preto na cabeça e falava “olha o passarinho”, para as pessoas sorrirem.
Era comum matarem galinhas e porcos no quintal de casa, onde também se colhiam verduras e legumes de uma horta que os mais velhos cuidavam. Como não existiam frigorificos, as carnes eram cozidas em fogões à lenha e armazenadas , mergulhadas em gordura de porco – banha ou metidas na salgadeira, para não estragarem.
Como eram as casas e como eram iluminadas
As casas eram feitas com paredes de barro e pedra (taipa). As paredes eram grossas, o telhado não tinha placa. Alguns tinham as telhas à mostra, outros eram forrados de canas ou de madeira. O chão era de terra batida e quem tinha mais posses mandava cimentar. As paredes eram caiadas ou pintadas com cré. Por dentro muitas não tinham paredes e eram divididas por serapilheiras caiadas. As portas dessas divisões eram tapadas com cortinas de chita. Não havia água canalizada e a maioria das casas não tinham casa-de-banho. As pessoas faziam as necessidades na rua e de noite utilizavam o bacio. As casas do campo tinham grandes lareiras. As casas primeiro eram iluminadas com candeias ou lamparinas de azeite e mais tarde com candeeiros a petróleo e também velas de cera.
Quais as principais profissões
A maior parte das pessoas trabalhava no campo, a mondar o trigo e a cevada (mondadeiras) e a ceifar (ceifeiras). Lavravam a terra com a charrua puxada por juntas de bois ou vacas. Os homens e as mulheres que trabalhavam no campo trabalhavam de sol a sol. Havia as lavadeiras que, de joelhos lavavam em cima de pedras, nos barrancos, as roupas das pessoas mais ricas e outras cosiam as roupas (costureiras). Algumas cuidavam dos filhos das pessoas ricas, chegando as que também tinham filhos pequenos a amamentar os filhos das patroas (amas-de-leite). Havia as criadas de servir que trabalhavam nas casas dos lavradores e das pessoas ricas. Outras profissões que desapareceram ou quase não se encontram são: o ardina (que vendia os jornais), a varina, o fotógrafo à lá minute, o moço de fretes, o aguadeiro (a), (pessoa que distribuía água pelas mondadeiras ou ceifeiras, enquanto elas trabalhavam), o moleiro, o ferreiro (que fazia todo o tipo de alfaias e colocava ferraduras nos animais), o abegão (que fazia as carroças), os guardadores de gado, o almocreve (homem que tomava conta de parcelas de terreno de um lavrador), as costureiras e os alfaiates, o sapateiro e o amola tesouras.
As roupas
As roupas eram dos seguintes tecidos: chita, fioco, organdim, riscado, saragoça, sarjado e cotim. As roupas de vestir eram feitas nas costureiras ou nos alfaiates. Havia mais costureiras de roupas de mulher, mas também havia algumas que faziam roupa de homem. Os alfaiates só faziam roupa para homem. As roupas interiores eram feitas em casa. As mulheres usavam vestidos e saias com muita roda e compridos, porque não se podia mostrar os joelhos. Na cabeça usavam um lenço e poucas usavam mangas curtas ou blusas sem mangas. Também não se podia andar sem meias. Os homens usavam jaquetas e coletes. As pessoas compravam os tecidos a metro nas lojas e quem sabia fazia a sua própria roupa, quem não sabia mandava fazer. A maioria das pessoas só tinha duas mudas de roupa, para andar no dia-a-dia e uma para os domingos. Por vezes tinham que ficar deitados à espera que a roupa secasse, porque não tinham mais nenhuma. Também era hábito as roupas passarem de irmão para irmão. Muitas pessoas, principalmente as crianças andavam descalços. As meninas normalmente usavam vestidinhos de chita e os meninos calções de cotim e camisas de riscado.
As compras
Faziam as compras nas feiras e mercados, nas tabernas e mercearias onde se vendia de tudo um pouco e em pequenas quantidades. Podia-se comprar tudo a peso, o açúcar, o arroz, a farinha,… A feira mais importante era a de S.Pedro. Nesse dia deixavam de trabalhar e era rara a pessoa que não tinha um vestido novo (mesmo que fosse dado e já usado), para vestir. Era um dia de festa!
Os serões
No Inverno passavam os serões à lareira a contar histórias e adivinhas, a jogar às cartas e a ouvir telefonia (rádio). Os homens por vezes iam à taberna e as mulheres ficavam em casa com os filhos. Os serões eram pequenos porque não podiam gastar muito petróleo com os candeeiros e também porque tinham que se levantar cedo para ir trabalhar.
Onde iam
As mulheres, a maior parte das vezes ficavam em casa a fazer malha ou a costurar, ou iam a casa das vizinhas. Quando estava bom tempo as mulheres juntavam-se na rua a conversar e levavam a malha, os bordados ou a costura para fazer. Os homens juntavam-se nas tabernas a cantar, a jogar à malha, ao palito ou às cartas. Também costumavam passear pelos campos.
Como se divertiam
Antigamente havia colectividades onde as pessoas se juntavam à noite para ouvir rádio, ler jornais e mais tarde ver televisão. Também jogavam alguns jogos como: Dominó, Damas e Cartas. Em alturas especiais, nessas colectividades realizavam-se bailes onde havia concursos de dança. Também se divertiam indo a feiras e mercados e algumas festas. No Verão iam à praia em carroças puxadas por burros. Iam de manhãzinha, levavam o farnel e voltavam quase à noite.
Também durante o trabalho cantavam e à hora do almoço dançavam ao som de realejo. As crianças também tinham várias brincadeiras. Os rapazes jogavam ao pião, ao berlinde e à malha. As meninas mais pequenas brincavam com bonecas de trapo, com cabelos feitos de barbas de milho e palha. Os meninos mais pequenos brincavam com carrinhos feitos de madeira, de cortiça e arame. Depois havia outros jogos que davam para rapazes e raparigas: jogo do saco, do jangro, do carolino e da calha.
Como se deslocavam
Em pequenas distâncias deslocavam-se a pé. Em maiores distâncias deslocavam-se de carroça puxadas por mulas, cavalos ou bois, ou iam de burro. Só para distâncias muito grandes é que iam na camioneta da carreira (autocarro). Alguns tinham bicicletas a pedal. Muitas pessoas morriam sem ter ido a Lisboa e até mesmo a Santiago do Cacém.
Notícias do que se passava no país e no mundo
As notícias sabiam-se através da telefonia e dos jornais e passavam de boca em boca, já que poucas pessoas tinham rádio e poucos sabiam ler.
Outras curiosidades:
Antigamente as mulheres tinham os filhos em casa. Os partos eram feitos por senhoras a que chamavam “curiosas” ajudadas pelas mulheres da família. Por esse motivo morriam muitos bebés.
A alimentação era muito diferente do que é hoje. Os alimentos eram cozinhados em panelas de barro ou de ferro, em lume de chão. A alimentação era à base de feijão, grão, batatas, sopas de pão, papas e pouca carne. Só costumavam comer carne em dias de festa. Comiam peixe pouca vez. Nas famílias maiores, dividia-se uma sardinha por duas pessoas. O pão era amassado à mão, em alguidares de barro e depois cozido em forno de lenha.
Nesse tempo era habitual os vizinhos se juntarem na “matança do porco”. Era um dia de festa. A carne depois era salgada e da gordura fazia-se manteiga (banha).
Antigamente não havia água canalizada, as mulheres tinham que ir buscar água aos poços em cântaras que levavam à cabeça ou ao quadril.
Muitas crianças nem iam à escola e dos que iam, a maior parte só andava na escola até à quarta classe e depois começavam logo a trabalhar.
Os candeeiros da rua eram acesos com um ferro alto que tinha na ponta uma tocha acesa, feita de pano e molhada em álcool. Eram candeeiros de azeite.
Os ferros de passar a roupa eram aquecidos com brasas da lareira.
As poucas crianças que iam à escola não tinham material escolar. Tinham apenas uma pedra de ardósia, onde faziam as suas tarefas.
Claro que nem para todos era assim.